O AZIBO


— Quero ir fotografar!
— Ok.
— Levas-me? Touxe a câmara de propósito.
— Está bem. Onde queres ir?
— Não sei. Escolhe tu.
Entramos no carro. O Clife tinha dito que me ia levar ao Azibo, que é uma estância balnear em Trás-os-Montes, antes de chegar a Bragança.
Estávamos em Março, num daqueles dias em que a Primavera mais parecia um Inverno tardio disfarçado.
Eu já tinha ouvido falar do Azibo: uma barragem construída no Tua tinha transformado aquele pequeno vale numa praia fluvial. Também já tinha visto fotos de amigos no facebook, durante o seu retiro de Verão no Azibo, mas naquele dia nada convidava a um mergulho nas águas geladas da barragem.


Seguimos pela auto-estrada para Norte, em direcção a Bragança /Espanha. Enganámo-nos no caminho, tomámos a saída errada e tivemos que voltar para trás.
— Tenho um sentido de orientação muito bom — comentei. O Clife concordou.
Passados uns quilómetros encontrámos a saída certa. Em poucos minutos chegámos à estância balnear. Estava fechada e deserta.
— Não é isto que eu quero fotografar — disse.
— Então?
— Isto é a parte que todos conhecem. Eu quero ir ver a paisagem. Mais para aquele lado — e apontei.
O Clife virou o carro e subimos mais as colinas. Passamos pela estrada nacional, e da estrada nacional para o acesso local. Pouco depois a estrada de paralelo, que limitava os percursos da barragem, deu lugar a caminhos de terra batida, mais estreitos e sinuosos.
— Tens a certeza que depois conseguimos dar a volta para trás?
— Não te preocupes. O carro passa.


De cima das colinas já se via a praia. As núvens reflectiam-se na água, como naqueles quadros ingleses de 1700, o que me fez soltar um "aaah" de excitação: era mesmo aquilo de que ia à procura.
Lá ao fundo a mata cinzenta tocava na borda da água, continuando para o seu duplicado aquático.
Começou a chover.
Para além do suave sibilo dos pingos de chuva a cair na água da barragem, não se ouvia mais nenhum som. Era a paz absoluta.


Foi neste cenário que destapei a câmara, prendi o cabelo com um elástico, e comecei a fotografar. Registei a água, as colinas, as árvores, os ramos e a vegetação das margens, um pontão para barcos de recreio e o acesso para levar os barcos para o rio. E fotografei pedras. Deus, esta zona é pedregosa! Aparecem de todos os lados, a pedras. Pardas, cobertas por líquenes, aguçadas como facas. Era como se algum gigante tivesse ali passado em tempos e afiado aquelas pedras para a posterioridade.
Descemos a pé até à margem transparente. Via-se o fundo do rio.
Fotografei em silêncio com a câmara. E o Clife também, com o telemóvel. Por esta altura a chuva intencificou-se e começou a cair com mais força, e tivemos que voltar para o carro.
Soltei o cabelo quando entramos.
— Já podemos ir para casa. Se não quiseres continuar o passeio não faz mal. Já vou contente.
 

Comments